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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Advento



Continuo com medo da cruz Senhor, continuo mais cobarde do que antes e o medo do peso do madeiro é assustador. Queríamos o mundo à nossa maneira, dentro da nossa reduzida ideia de felicidade e se tivessemos tudo o que queriamos jamais prestariamos atenção ao teu sussurrar e ao teu enorme abraço que nos espera.
Vem Senhor Jesus, na aceitação da minha cruz e na visão da dor que existe nos que estão à minha volta, encontrei uma estranha doçura e um consolo que não consigo explicar.Vem, desce sobre mim que já abri a porta do meu coração com a chave da minha dor. Descobri que o teu maior encanto vem escondido nas lágrimas derramadas dos pequeninos. E como tenho sido pequeno, como tenho chorado no meu interior, silenciosamente. Tu, Senhor sabes as minhas dores e as minhas penas, mas também sabes as dores de tanta gente neste mundo que procura calar a sua angustia em tanta coisa e que quando se vê privada na finitude das coisas mergulha no desespero profundo. Vem Senhor, desce, acomoda-te nos aposentos da nossa alma e tranforma as nossas lágrimas na força que pensámos jamais vir a possuir.
Vem Senhor, não tardes a descer aos nossos corações, olha por nós, mostra-nos que a nossa dor tem um sentido e que não é em vão!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Família, o centro do amor...



Hoje venho-vos falar de família, mais nomeadamente de família cristã. Ao longo dos anos estes pequenos nucleos foram fundamentais na passagem de valores, de cultura e tradição. Acho que por mais jardins de infância de qualidade que existam ou escolas competentes, ou catequeses boas, nada substitui este nucleo social tão bonito. A família é ou deveria ser a grande escola do amor para a vida, o sitio de eleição de segurança, paz e amor numa procura do bem estar de todos os elementos, desde o netinho mais pequeno ao bisavô. Se vivessemos num mundo onde estes núcleos sociais procurassem mais o amor, o mundo seria menos egoista, mais salutar, mais nobre.

Sabemos que a vida de um casal não é fácil e muitas vezes o aturar-se não é mesmo nada fácil mas mesmo por essa razão o matrimónio é algo que nos tira do egoísmo, tira-nos do "é meu" para nos colocar no "é nosso" e são muitas as vezes que os cônjugues tem de abdicar de si para o bem do todos. Numa sociedade que procura o comodismo e o prazer esta forma de vida nada traz de gratificante, talvez a não ser o ter alguém certo na vida sexual, por isso o casamento está em crise e os divorcios aumentam assustadoramente.

Daí este meu grito de hoje, é que este fim de semana tive reunido com casais cristãos, não daqueles que são de "bem", vão à missa e durante a semana fazem o contrário do que ouviram, falo sim de casais que colocam Cristo à frente, que procuram vivenciar Cristo, que procuram trazer Cristo à sua vida. A sua vida como a vida de todos os casais não é fácil, mas comoveu-me muito a forma como se amam, como se respeitam, como procuram em comum o bem estar não só da sua família mas também do bem estar do mundo que os rodeia. Deparei-me com casais que tentam viver pelo amor, de casais que não abandonam os seus idosos mesmo que sejam já muitos chatos, de casais que vivem pelos filhos e pela sua formação humana, de casais que amam mesmo quando era quase impensável o amor. Falo de casais que estão comprometidos com o mundo, que o amam, que o tentam mudar para o amor.Falo de famílias que tentam viver segundo a sagrada família, num lar que não está isento das crises dos outros lares mas que colocam o amor, a paz e a harmonia à frente de tudo e que por isso são felizes numa felicidade que vai muito mas muito mais além da alegria do comodismo e do prazer egísta. Sofrem, choram, discutem, erram mas aprenderam o valor do perdão e conhecem a força que brota do seu amor, usam-na, transformam-se à luz de Cristo. São casais que vivem o ideal cristão, que não deixam de ter tristezas e raivas mas que confiam em Deus e que acabam por rebuscar nas crises forças para avançar.

"A Igreja promove que a família seja de verdade o âmbito onde a pessoa nasce, cresce e se educa para a vida, e onde os pais, amando com ternura seus filhos, vão preparando para saldáveis relações interpessoais que encarnem os valores morais e humanos em meio a uma sociedade tão marcada pelo hedonismo ou a indiferença religiosa". Papa Bento XVI

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Um banquete de sentido...



Evangelho segundo S. Lucas 14,12-14.

Disse, depois, a quem o tinha convidado: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te. Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás feliz por eles não terem com que te retribuir; ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.»

Ontem este Evangelho tocou-me, primeiro senti-me eu o pobre que necessita de ser convidado ao banquete de Deus Pai. Sinto-me pobre porque sou um mero pecador, fraco, escravo de tanta coisa que não me edifica, de tanta coisa que só me puxa para um abismo dentro de mim. Sim sou um pobre que precisa de ser convidado para o banquete da Graça de Deus. São muitos os apelos do mundo para não ir ao banquete, para não procurar receber a graça mas fico feliz porque posso ir ao banquete, posso participar da graça de Deus mesmo sabendo Ele que não posso retribuir. E no fundo é isto que Deus quer de nós, a nossa construção, o surgimento da Primavera do Espírito Santo em nós é não mais do que a abertura do meu coração a um amor que nada espera em troca, que se sente feliz por poder amar sem segundas intenções.

E foi aqui que entrei na segunda parte da minha análise, também eu devo fazer da minha vida uma doação, mas não uma doação esperando obter algo mas sim uma doação em Cristo, para que também os meus irmãos, aqueles mais pobres da Graça de Deus possam reconhecer a força que habita no seu coração. É esta a toada da Missão do cristão, levar a boa nova da salvação a todos os povos, a toda a gente, mesmo áqueles que nada nos podem dar em troca. Quantas vezes não me fico na minha missão por aqueles que sei que participam da Graça e que sei que me podem edificar também, quantas vezes a minha missão se encerra em quatro paredes onde é fácil falar de Deus, quantas vezes não demonstro o meu amor só àqueles que me amam.

Pois é, é preciso amar mesmo sabendo que não seremos amados. O nosso coração deve buscar o amor de Deus, trazê-lo para a nossa vida de todos os dias e espalhar o seu perfume por quem se vai cruzando connosco, pois como disse um amigo meu uma vez, nós somos a bíblia onde as pessoas ainda lêem e a nossa consciência de seres amados por Deus é fundamental para que cada vez mais gente compreenda este convite de Deus para o seu banquete. Amar sem esperar nada em troca, sorrir para quem não sabe sorrir e para quem não nos vai sorrir de volta, alertar quem não quer ser alertado... Quem convidas poderá até vir a ser saciado e poderá até um dia convidar-te também a ti para o banquete da amizade mas nem sempre é assim e não deve ser esse o nosso objectivo de missão...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A Primavera em Paulo


Estamos, na Igreja Católica, em pleno ano paulino, um ano que se pretende de crescimento entre os cristãos, ao sabor da vida do Apóstolo Paulo. É controverso este Paulo pois muito do rosto da igreja foi influenciado por este homem. Mas se influenciou o rosto da igreja, também muito influenciou o seu coração espalhando a Primavera do Espírito Santo para os pagãos, para aqueles que não conheciam o Deus de Israel.Paulo, primeiro que tudo é exemplo de conversão, de judeu fariseu que perseguia os cristãos ele passou a apóstolo assim quase de um momento para o outro, revestindo-se do Homem Novo. É curiosa a história de Paulo, toda a sua vida, tudo o que aprendeu e tudo que fez de errado, tudo emerge para o papel que veio desempenhar, como se fosse talhado para aquela missão. É uma das mais belas manifestações do Espírito Santo na vida dos homens depois de Cristo. A conversão de Paulo não o impediu de voltar a errar e a não saber tudo, também Paulo continuou a buscar, a procurar a luz que o encadeou a caminho de Damasco e desta forma nem tudo o que diz nos seus escritos pode ser definido como verdade definitiva, mas no que toca ao coração Paulo trouxe uma imensa primavera aos corações humanos e muito do que hoje lemos nas suas cartas é exemplo disso. Mas este facto facilita-me a minha caminhada pois dá-me espaço para errar, para procurar, para perceber por onde posso caminhar e por onde não devo ir. A conversão faz-se dia a dia, toda a tua vida é um conjunto de acontecimentos que te vão transformando no Homem Novo. Hoje, este convite de mudança de vida continua a ecoar na vida de cada um, indeferente aos gritos de toda uma sociedade que busca longe de Deus a alegria que jamais encontrarão nas coisas do mundo. O toque do Espírito Santo que Paulo descreve é enorme, transborda no nosso interior, faz-nos sair de nós, faz-nos amar a uma dimensão que julgavamos impossível...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Que eu seja capaz...


Às vezes Senhor, sinto-me atolado no lixo que vou angariando para o meu interior, afasto-me de Ti para viver a minha vida, para poder viver neste mundo, na lógica deste mundo que nos aponta a felicidade em tanta coisa que acabamos por perceber ser efémure. Acabo por perder a consciência do dom que depositaste em mim pois tudo no mundo parece apontar a felicidade longe da tua palavra. Ser cristão hoje é uma seca, chegam-nos a convecer que ser cristão é ser doente, é não ter consciência das coisas belas da vida. Ser cristão sai fora da lógica do viver pelo prazer, da lógica egoista de que a felicidade está no quanto possuo e nas experiência prazerosas que conseguimos coleccionar, quanto mais melhor. Assim, por vezes afasto-me de Ti, é todo um mundo que me grita e que me faz perder o norte da tua luz.

Por isso hoje e agora volto a levantar o meu olhar para Ti, para te pedir que me voltes a mostrar o verdadeiro sentido, a verdadeira felicidade. Para te pedir que me voltes a demonstrar que o ser feliz está muito mais no quanto conseguimos amar e no quanto nos conseguimos desapegar das coisas do mundo. Que o meu coração compreenda Senhor que Tu não nos pedes que deixemos as coisas deste mundo, apenas queres que não sejamos escravos delas. Que eu hoje oiça a tua voz e que o meu coração chegue ao entendimento de que criastes a vida e este mundo para que fizéssemos caminho de crescimento para Ti e que sem este propósito acabamos por cair num abismo profundo de nós mesmos.

Senhor, faz-me capaz de Ti, faz-me capaz do amor, da caridade, da compreensão de que nos criastes para algo muito maior. Somos barro nas tuas mãos, que nem a cruz da vida, nem o lado mais prezaroso nos afaste do propósito de assumirmos a nossa real condição de seres criados à tua imagem e semelhança. Faz-me capaz de Ti, revoluciona o meu interior, consola-me nas tempestades, protege-me da escravidão de procurar a felicidadade longe de Ti. Transforma o meu coração, alarga-o para que todo o Amor que És o preencha. Que eu seja capaz de Ti, Senhor, que eu seja capaz do teu amor.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

A Revolução do Justo (Parte IX)


O Deus que Jesus nos veio revelar é um Deus de amor, de um amor profundo, de um amor tão grande que podemos dizer que Deus é doação, Deus é uma fonte inesgotável de graça que nada guarda para si, todo Ele se entrega, se dá, sem reservas. Assim Jesus tudo recebe do Pai, Jesus é a própria graça de Deus doada até à exaustão e por sua vez este Jesus nada guarda para si, tembém Ele se entregou e continua a entregar, a sua vida foi neste mundo e é no outro uma doação total e assim a graça está ao alcançe do humano através do Espiríto Santo. Uma dinâmica perfeita que exclui o egoismo, assente numa entrega total de amor. Tudo isto com o propósito de trazer a verdadeira felicidade aos homens, não para a dar assim sem mais nem menos, mas sim para que o homem possa aderir de livre vontade a receber o maior dos bens, a graça de Jesus Cristo, doada pelo Pai descida ao humano pelo Espiríto Santo. Jesus é a face do homem novo que Deus Pai quer ver nos seus filhos.

"Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.
Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis.
Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer.
E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo;
Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida
."
João 5, 19-24

Então como ser o homem novo? Que pistas nos são dadas para sermos o homem novo, abundante em vida e em graça? Onde procurar?

Jesus subiu aos céus, dizem-nos os Evangelhos e a primeira pista lá apontada é o Espiríto Santo, o dom de Deus totalmente doado aos homens para que estes alcançem a graça das graças, ser o homem novo, o homem livre, o homem capaz de um amor muito mais profundo. Mas sobretudo a grande pista que nos aponta o norte, a flor de lís que guia o cristão são as escrituras, a biblia sagrada. O Espiríto Santo ajudará mas temos de ser nós a dar o primeiro passo e este passo está na leitura e na meditação das sagradas escrituras. Neste livro não encontramos directrizes de vida muito directas, por isso é importante a meditação. Neste livro, principalmente no antigo testamento (Antes de Jesus Cristo) somos convidados a ler histórias da relação de Deus com os homens porque Deus é o Deus da relação, do dialogo, é um Deus que não abandona os homens à sua sorte mas que vive com eles, sofre com eles, alegra-se com as suas alegrias e chora com as suas tristezas. Assim torna-se muito util a leitura destas passagens que falam na relação entre Deus e os homens mas é importante que seja uma leitura meditativa. É preciso ler olhando a nossa vida, o mundo que nos rodeia, sem levar logo à letra tudo o que está lá escrito. É preciso ler meditando e rezando, construindo a nossa própria relação com Deus sem ter como certo o que lá está escrito mas questionado, reflectindo. Esta é a pista das pistas que nos podem guiar para o Homem Novo.

"E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.
Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus
."
(Mateus 4, 3-4)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

A Revolução do Justo (Parte VIII)


"Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós."

(S. Mateus 5,1-16)

A revolução do Justo pretende-se no interior do ser humano, mas não é uma revolução pacifica, embora seja alimentada pela paz. Não é pacifica porque temos que nos mudar, mudar as directrizes do nosso interior, tomar consciência das nossas fraquezas e isto requer auto ferir o nosso orgulho pois estaremos a admitir que não somos perfeitos e que precisamos mudar, e, ao mesmo tempo estaremos a ir ao contrário da corrente de ideias que nos aponta segurança noutros caminhos. Assim ao aderir a esta mudança chamada de conversão teremos que nos tornar muito humildes no sentido de que admitamos as nossas trevas, os nossos medos, as nossas tendências egoistas.

Mas depois deste passo dado apercebemo-nos de que o nosso interior mudou mas o mundo exterior continua o mesmo e aí sentimos grandes dificuldades em ser diferente num mundo que continua igual. É muito dificil manter a nossa ideia firme quando todo o exterior nos aponta outros caminhos e nos fala de procurar seguranças que sabemos ser secundárias neste processo, como a riqueza, o prazer imediato, o garantir um futuro neste mundo a todo o custo. Assumir uma conversão de vida é assim um processo muito dificil em que teremos de mudar as prioridades, não é um processo que se finalize num unico momento, é precisa toda uma vida para que ele ocorra no nosso interior, caminhando neste sentido um dia de cada vez.

Mas conforme vais caminhando neste sentido o mundo continuará a puxar-te, as consciências pesadas dos outros quererão que te cales, que não mudes, que permaneças entravado neste crescimento, apenas procurando sentido nas coisas que eles têm como certo e lógicamente fonte de alguma segurança. É aqui que começas a ser persuadido a desistir da conversão e, se insistires neste caminho o mundo começerá a querer-te calar a todo o custo, pois tu irás começar a ser a voz da consciência que eles querem calar a todo o custo. Este querer calar resume-se em violência, pode ser pequena como ser posto à parte ou pode ser grande se te perseguirem, se te insultarem, se te quiserem fazer mal, calar-te a todo o custo.

É por esta razão que ao longo dos séculos têm existido os perseguidos, o próprio Jesus nos avisou que a nossa conversão não ia ser fácil, mas que era necessário para a nossa felicidade que nos mantivéssemos integros neste caminho, firmes como um pinheiro numa noite de grande tempestade. É assim que o ódio dos silenciadores de consciências cresce, cresce a tal ponto que a violência contra nós pode ir a extremos, o que não falta são exemplos de mártires que se mantiveram firmes na sua conversão pessoal, agindo no mundo de acordo com a sua consciência, uma consciência transformada pelo amor. Felizmente que hoje em dia as formas de violência contra os justos são menores, passando mais pelo desprezo e por acusações, mas ainda os há, ainda há mártires de sangue que são silenciados pelo assassinato.

Mas Jesus diz-nos que felizes dos que presverarem nesta nova atitude de vida, porque a sua vida terá um sentido, servirá um propósito muito mais abragente e será fonte fecunda de uma nova realidade humana.

(Continua)

terça-feira, 13 de maio de 2008

A Revolução do Justo (Parte VII)


"Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus"

(S. Mateus 5,1-16)

A revolução que Jesus proclamava para o interior de cada ser humano continua actual, continua a ser tão precisa como à dois mil anos. Jesus falava no Homem Novo, um homem que compreende a brevidade da passagem por este mundo, um homem que, consciente desta brevidade, aproveita a vida para alcançar o que realmente interessa alcançar. Só será feliz quem viver a vida pelo amor, pelo perdão, pela sensibilidade de perceber as máscaras que nós humanos pomos e ter a coragem de olhar para lá delas, onde se encontra o verdadeiro eu das pessoas, um eu tão frágil que contrasta com a imagem forte que queremos dar. Todos procuramos pequenas seguranças que vão dando sentido, faz parte do nosso processo de amadurecimento e de procura, mas é preciso que esse amadurecimento ocorra na totalidade para conseguirmos tocar no manto da fragilidade, lá no fundo do nosso ser, será neste toque que compreenderemos o verdadeiro, aquilo porque vale a pena lutar. Assim a verdadeira felicidade reconhece-se pela grande paz que se sente, uma paz que compreende, que aceita e que aponta o erro, não para deitar abaixo quem o practica mas sim para que o outro possa sair dos seus enganos. A verdadeira felicidade está em tocar a nossa fragilidade e aceitá-la e só assim comprenderemos que também o outro é frágil e que apenas se mascara com fortalezas de ser o melhor, de ser bem sucedido neste mundo.

Puro de coração é quem chega ao pleno conhecimento da nossa fragilidade, puro é aquele que nesta fragilidade percebe que somos só há uma maneira de ser forte e que é amando. Sabemos que o mundo proclama fracos os que amam e que perdem muito tempo a pensar mais nos outros mas Jesus vem dizer que quem consegue chegar ao amor é forte, forte porque teve a coragem de olhar para dentro, reconhecer a sua fragilidade, abrir caminhos entre os medos que nos habitam. Pois é, o homem procura sentir-se seguro, procura encontrar formas que o façam pensar que é forte e não frágil como realmente é, mas Jesus veio dar luz a esta escuridão, Jesus apontou-nos o amor como o propósito a que devemos chegar. É preciso escutar este Jesus, percebermos o que vai mal dentro de nós e que medos são estes que nos enchem tanto. Olhar para nós e aceitarmos que somos frágeis é doloroso, mas só assim estaremos aptos a mudar o nosso interior, a desviar os medos para alcançar a grande salvação do amor. Libertos dos medos estaremos livres para amar, amar por amar, sem esperar nada em troca, amar porque só amando alcançamos a verdadeira felicidade.

"Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu.
E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar."

(2Cor 12, 2-3)

Há muito que as pistas da felicidade foram lançadas, se queremos ser felizes teremos que ter esta coragem de olhar para além das máscaras, procurando o verdadeiro eu e o verdadeiro outro e então deixar o nosso coração falar, sempre com a mensagem de Jesus bem presente. Só assim chegaremos ao terceiro céu como S. Paulo dizia, o terceiro céu é um estado de graça concedido aos que ousam viver no amor.

"E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.
Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim.
E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte."

(2Cor 12, 7-10)

Queres ser feliz?

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Vinde, ó Santo Espírito!


Rezando com a sequência de Pentecostes

Vinde, ó santo Espírito,
vinde, Amor ardente,
acendei na terra
vossa luz fulgente


Senhor da Vida, amor pleno, sentido máximo da existência humana vem e desce com o teu grande amor, como água sobre as terras secas do meu ser, inunda-me com a tua graça para que a minha vida, o meu ser alcançem a Primavera que nos queres trazer...

Vinde, Pai dos pobres:
na dor e aflições,
vinde encher de gozo
nossos corações.


Vem Senhor da Vida, amor pleno, sentido máximo da existência humana, inspira-me com a tua graça para que eu possa sentir que, embora não esteja livre das aflições, não estou sozinho, Tu estás sempre comigo, assegurando que o meu caminho seja para o grandioso abraço do Pai.

Benfeitor supremo
em todo o momento,
habitando em nós
sois o nosso alento.


Senhor da vida, inunda-me com a Tua presença para que eu não caia em desânimo, vem amor pleno desce sobre mim fazendo-me sentir que Tu és o sentido máximo, o portoque a nossa alma procura para se saciar.

Descanso na luta
e na paz encanto,
no calor sois brisa,
conforto no pranto.


Senhor da vida és os verdes prados onde me repasto e onde me consolo, és o Espírito consolador que não me deixa perder o norte, mesmo quando tudo à minha volta parece ruir, Tu te fazes presente mantendo-me de pé.

Luz de santidade,
que no Céu ardeis,
abrasai as almas
dos vossos fiéis.


Senhor da vida, que nos apontas a luz nos caminhos da vida, inunda-nos a todos, dá-nos o alento para que procuremos sempre Jesus nos rostos por detrás das máscaras humanas que nós homens tanto gostamos de ostentar.

Sem a vossa força
e favor clemente,
nada há no homem
que seja inocente.


Senhor da vida, sem ti o que seria de nós, afogados no nosso pecado, perdidos e desnorteados, sem vida, sem amor.

Lavai nossas manchas,
a aridez regai,
sarai os enfermos
e a todos salvai.


Senhor da Vida mostra-nos o nosso mau caminho e revela-nos docemente a verdade que és e que nos queres ofertar, curai as nossa feridas das quedas que damos e dos males que nos acontecem, leva-nos e conduz-nos à salvação do Amor.

Abrandai durezas
para os caminhantes,
animai os tristes,
guiai os errantes.


Senhor da vida, neste caminhar vivemos aflições cegos muitas vezes nos tornamos errantes, desce sobre nós a tua verdade para que sejas nosso consolo e nosso guia na escuridão do caminho.

Vossos sete dons
concedei à alma
do que em Vós confia:

Virtude na vida,
amparo na morte,
no Céu alegria.


Senhor da vida desce sobre nós e transforma o nosso ser egoista num ser de amor e de entrega, sê o nosso amparo sempre, na vida e na morte para que os nossos corações encontrem a alegria do amor pleno, do sentido máximo da existência.

ALELUIA

Aleluia. Aleluia.

Vinde, Espírito Santo,
enchei os corações dos vossos fiéis
e acendei neles o fogo do vosso amor.

terça-feira, 6 de maio de 2008

A Revolução do Justo (Parte VI)


"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos" Mateus 5:6

Aderir a esta revolução implica querer tomar consciência do caminho para uma sociedade mais próxima da perfeição. Embora saibamos que a sociedade perfeita é utopia, temos consciência de que se nada for feito será muito pior para todos. Assim Cristo aponta-nos uma nova maneira de viver assente na busca da felicidade completa e uma das consequências é o querermos o melhor para nós e para os outros e o melhor é a alegria de uma vida vivida pelo amor. Ter fome e sede de justiça é procurar ser recto de forma a que sejamos membros activos na construção de um mundo melhor para todos, onde as consciências permitam reconhecer que existe um outro que precisa de nós. Cada ser humano não se pode considerar completamente em paz sabendo que no mundo ainda muita gente sofre perdida na escuridão da vida, a consciência deste facto serve para que não baixemos os braços e para que lutemos o bom combate.

O cristão procura viver de acordo com a justiça, procura, primeiro de tudo, ser uma fonte de justiça no mundo com o propósito de que todos possam aceder a este nivel superior de vida que é a vida em comunhão com Deus que é amor. O cristão tem consciência de que este mundo não é justo mas que se todos vivessem de acordo com os ensinamentos do Mestre de Nazaré tudo seria bem melhor para todos. Bem aventurados os que entram nesta esfera da consciência e que procuram orientar a sua vida de acordo com a justiça, pois estarão a alcançar grandes niveis de liberdade face às coisas do mundo, lutando do lado da verdade e construindo o reino dos céus no seu tempo.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

Neste caminho e neste mundo ninguém pode dizer-se com uma vida sem mácula, ninguém é perfeito, só é perfeito o Pai que está nos céus. Na nossa vida cristã temos o propósito de alcançarmos a santidade mas temos de ter consciência das dificuldades e dos enganos deste mundo, até porque de certeza que já nos apanhámos em queda. Assim antes de partir a querer julgar o outro, devemos pensar que se o outro agiu mal é porque ainda não vive perfeitamente a nova vida anunciada por Cristo, devemos julgar os actos mas não as pessoas. Assim para que o homem novo surja temos que aprender a construir e a edificar no amor e fazer isto implica aprender a perdoar, a perdoarmo-nos a nós próprios pelo nosso pecado, a perdoarmos os nossos irmãos que cairam em falta e até a perdoar Deus quando sentirmos que a nossa vida está a ser uma infelicidade. Para isto é preciso ter bem presente que o que importa é chegar a este resultado de um reino de amor e para que isso aconteça temos que aprender e ensinar a amar, pois o amor é a cura de todos os males. A violência gera destruição, o amor e o perdão geram vida e amor.

"E, TENDO Jesus entrado em Jericó, ia passando.
E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico.
E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura.
E, correndo adiante, subiu a um sicômoro para o ver; porque havia de passar por ali.
E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa.
E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente.
E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.
E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.
E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão
"
Lucas 19, 1-9

Nesta passagem podemos ver como Jesus amou primeiro, não foi preciso acusar o pobre do Zaqueu, não foi preciso querer destrui-lo para que este mudasse de vida, Jesus apenas mostrou que precisava dele e que queria ser seu amigo. Em vez de destrui-lo como merecia, Jesus amou-o e o reino de justiça desceu àquele coração, o Zaqueu foi salvo naquele dia. Com esta passagem podemos entender a importância do uso de misericordia.

Para além disso ninguém neste mundo está livre de precisar de misericordia... Não podemos acusar e querer fazer justiça quando também nós temos os nossos podres. Temos o belissimo exemplo de um senhor que já não se encontra entre nós, o Papa João Paulo II, que após sofrer um atentado foi à prisão ter com aquele que o queria matar. Desta forma aquele homem assassino foi tocado pelo amor e também ele se arrependeu mudando a sua vida.

"Os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;
E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.
E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
Quando ouviram isto, redargüidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.
E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.
"
João 8, 4-9

A misericordia é essencial na construção do Reino de Deus, a misericordia de Deus e a misericordia de nós uns para os outros...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A Revolução do Justo (Parte V)


O sentido do Cristão é seguir os passos de Jesus para uma transformação interior que lhe dará muita paz. Cristo convida-nos a encontrar a felicidade ensinando-nos que a vida é muito mais e que a morte é apenas mais uma fase da vida. Por esta lógica somos convidados a sermos felizes, aqui e agora, a aproveitar a vida para alcançarmos uma maturidade muito maior. Mas não é fácil permanecer neste ideal, sobretudo nos tempos que correm em que se dá tanto valor ao supérfulo, ao consomismo, ao comodismo e quem o fizer arrisca-se a parecer tolo aos olhos do mundo, um infeliz. Sendo cristãos nem sempre temos a alegria que nos espera presente porque o ruído do mundo cheio de alegrias relativas fazem-nos ficar de pé atrás, às vezes sentimo-nos sós neste caminho, desamparados e, principalmente nas tribulações poderemos pensar que somos orfãos.

Evangelho segundo S. João 16,20-23.

"Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria! A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque chegou a sua hora; mas, quando deu à luz o menino, já não se lembra da sua aflição, com a alegria de ter vindo um homem ao mundo. Também vós vos sentis agora tristes, mas Eu hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará."


Assim as nossas dores também nos são uteis, tal e qual como as alegrias, a dor é imprescidivel num bom crescimento e é a um "Ser" mais completo a que somos chamados, porque o que realmente interessa é alcançarmos a felicidade das felicidades, o sentido total, o amor pleno. No fundo aquilo que somos chamados é a sermos divinos.

À medida que nos formos construindo interiormente iremos alcançando uma paz interior que nos permitirá abrir os olhos para o unico caminho para um mundo melhor que seja um mundo edificante da pessoa sem injustiças.

"Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra" ( S. Mateus 5,1-16)

À medida que formos crescendo interiormente e que deixarmos a revolução do Justo ocorrer dentro de nós, passamos a ver o mundo de maneira diferente, vimos felicidade onde os outros só vêem tristeza e vimos desconstrução onde os outros pensam estar o ser feliz, mas sobretudo passamos a perceber os enganos, as tristerzas e as dores que povoam os seres humanos. Já não olhamos com ódio e o nosso objectivo de luta está na edificação do outro. Não significa este ser manso que nos calemos perante a injustiça, mas que sim que abraçamos uma forma de luta assente na paz e no tocar as consciências. Se atacarmos com violência estamos a dar mais pretextos aos outros para serem piores, mas se atacarmos com o propósito de edificar o outro estaremos a obrigá-lo a olhar o seu lado negro e menos bom. E aqui encontramos outro foco de dor e sofrimento, o reconhecimento que temos zonas muito feias dentro de nós, este é talvez o maior dos sofrimentos porque implica o não gostarmos de algumas partes de nós e o orgulho não nos deixa mudar, felizes os que encararem o seu lado negro e sofrendo por ele existir o consigam mudar.

O propósito do manso é este de levar-se a si próprio e aos outros a reconhecerem o pecado que não os deixa ser livres para o amor... A mais precisa das revoluções...

terça-feira, 29 de abril de 2008

A Revolução do Justo (Parte IV)


Assim a revolução que Jesus quer trazer não é só uma revolução para a humanidade num todo mas sim para cada ser humano individualmente, Jesus pretende que cada homem alcance niveis superiores de perfeição e diz-nos que quando concretizarmos estes objectivos sentiremos então a verdadeira felicidade, uma alegria pacificadora.

Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;(S. Mateus 5,1-16)

Na lógica de Deus o mundo é uma escola onde cada ser humano é chamado a procurar por si só a sua verdadeira essência divina, portanto só se encontrando esta verdadeira essência diviina poderemos alcançar o máximo sentido da nossa existência. Por outro lado divinizando a humanidade estaremos a caminhar para uma sociedade mais perfeita, mais justa, daí a urgência nesta revolta de Cristo, uma revolução de paz assente na mudança de consciência.

Assim a felicidade que queres encontrar a todo o custo, aquela que realmente te trará paz e tranquilidade é conseguires divinizar-te, é conseguires ser melhor ser humano, é esta paz de que Jesus nos fala:

"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." João 14:27

Nós seres humanos no meio de tanta coisa bela deste mundo fácilmente achamos que tendo isto ou aquilo, fazendo isto ou o outro seremos felizes mas Jesus fala-nos de que que a maior das felicidades está na transformação interior da tua alma. É aqui que entra o sofrimento e a dor, a vida é feita de bons e de maus momentos para que o homem não pare de buscar, de procurar a felicidade. Nesta dinâmica está o Espirito que nos faz procurar sempre mais fundo, é que a felicidade que Jesus nos aponta está dentro de nós e não nas coisas do mundo.

«Deus criou espaços cheios de água para que os homens possam viver e espaços sem água para que tenham sede; e assim criou o deserto: um espaço com e sem água, para que os homens encontrem a alma.»
Provérbio Touareg

Assim Jesus proclama felizes os que choram, porque na sua dor não estão tão escravizados pelas coisas boas da vida e têm a alma mais aberta a receber a graça das graças, a sua divinização. Jesus alerta-nos que a saida do nosso ego centrismo não é um processo fácil e que até se pode tornar deveras doloroso mas o caminho faz-se caminhando e o fim ultimo desta jornada é o alcançe de uma maturidade profunda assente nos valores do amor. Tudo na vida se torna pretexto para que sigamos o nosso caminho para a maturidade das maturidades e este é, segundo Jesus, o principal objectivo da nossa existência. Tal e qual como é importante para uma criança as frustrações para o seu crescimento e amadurecimento, assim também o será para os adultos, para que eles encontrem o verdadeiro sentido das suas vidas.

À maturidade das maturidades Jesus chama santidade, é aqui que entra o ser santo, uma palavra tão banalizada que já quase caiu no ridiculo. Na nossa condição humana deste mundo poderemos não conseguir ser totalmente santos mas é preciso que caminhemos com este propósito se queremos realmente sermos felizes, é que é no ser santo que se encontra a felicidade, a maturidade das maturidades.

Nesta lógica de que somos chamados a uma verdade acima de tudo no mundo, faz todo o sentido a existência do sofrimento que se torna fogo ardente das nossas escravidões, por isso se diz que o sofrimento purifica... Só que mesmo sabendo isto, o sofrimento custa e será inevitável o choro e no meio dele poderemos pensar que não há sentido na vida, mas Jesus consola-nos chamando de felizes os que sofrem porque serão consolados, porque encontrarão a maturidade das maturidades.

"Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo." João 16:33

(continua)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A Revolução do Justo (Parte III)


A revolução de Cristo visa proporcionar uma vida qualitativa para cada ser humano, para tal será necessário mudarmos as prioridades mais profundas da nossa alma.

"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (S. Mateus 5,1-16)

A lógica que conhecemos aponta-nos para temermos o futuro e para tentar a todo o custo ter uma vida boa, facto que nos faz procurar a riqueza e que nesta busca nos pode levar a procurar unico consolo nos bens materiais. Não que esta preocupação do ter não seja válida mas sim que somos chamados a muito mais do que isto. Bem aventurados os pobres de espirito porque não são escravos desta incessante procura de segurança, é a desconcertante nova de Cristo. Esta pequena frase das Bem Aventuranças aponta-nos duas dimensões de felicidade, a pessoal pois não seremos escravos desta preocupação desenfreada de riqueza e a social, pois agindo sem ter a prioridade da riqueza estaremos a agir no mundo de forma justa, procurando o bem de todos e não apenas o nosso unico bem.

Esta é a base da boa nova de Jesus, da revolução que Jesus quer instaurar. No fundo de nós Cristo chama-nos para não vivermos tanto a preocupação de consolo nas coisas deste mundo como condição para abraçar uma verdade profunda. Aos nossos olhos habituados ao mundo esta prioridade não faz sentido, mas aponta-nos o caminho para a procura de um sentido existêncial muito para além do que conhecemos. É aqui que entra o Reino dos Céus, um Reino diferente que assenta mais num estado de Espírito, uma leveza enorme que nasce de um profundo sentimento de tranquilidade e de paz. É esta profunda paz que Cristo quer trazer aos corações humanos e que só pode vir de Deus, não das seguranças que queremos comprar a todo o custo neste mundo, por isso sorte daqueles que não se preocupam em primeiro lugar com os consolos deste mundo pois serão totalmente livres no seu interior para abraçar a verdade divina. Não há nada melhor na vida de que o abraço consolador de Deus que é Pai e nada nos pode separar deste abraço a não ser nós próprios que continuamos a preferir querer ser escravos.

Se estás a pensar que a vida é muito curta e que não acreditas na vida depois da morte, pensa ao menos que uma consciência tranquila é a chave de uma paz mais profunda, cada ser humano não se pode sentir totalmente tranquilo sabendo que irmãos seus sofrem e é realmente no agir mais de acordo com o bem comum, numa óptica de amor que está o segredo da paz das pazes, uma paz profunda, uma consciência totalmente tranquila. Podemos enganarmo-nos a nós próprio dizendo que já possuimos a paz nas coisas deste mundo mas seria preciso vivenciarmos a a paz de Deus para percebermos o quanto estamos enganados, uma paz que o Pai permite que sintamos mesmo sem acreditarmos nEle. Além disso esta pobreza de Espírito proclamada por Jesus é a chave para uma sociedade mais justa, mais equitativa, onde cada um tem o que realmente precisa.

No fundo de ti és chamado a mudar as tuas prioridades, de forma a que a tua vida seja realmente uma luz desta revolução que há tanto tempo paira no ar... Bem Aventurados os pobres de Espirito, bem aventurado quem não é escravo da procura desenfreada de segurança, segurança financeira, segurança prazerosa, segurança afectiva em pequena escala. Jesus chama-nos a uma segurança afectiva numa escala mutio mais profunda, num sentido profundo que a nossa passagem neste mundo não é em vão e que realmente fomos uteis, que a nossa vida serviu para alguma coisa, ensinando-nos que só amando muito poderemos encontrar um tesouro dentro de nós:

"Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:21

"Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo." Mateus 13:44

(Continua)

terça-feira, 22 de abril de 2008

A Revolução do Justo (Parte II)


Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe. « Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era ao cair da tarde. (Jo 1, 38-39)

Começo hoje com este excerto de São João que nos mostra a adesão dos discipulos a Cristo. Os discipulos estavam fascinados com este Cristo, que lhe tocava o fundo das almas, neles a revolução do Justo estava a começar a entrar. Afinal que Homem era aquele, que falava que era preciso criar o Homem Novo. Os discipulos sentiram que estavam ao pé da verdade, era muito consolador a presença deste Cristo nas suas vidas e a sua curiosidade acabou por ser mais forte, eles queriam saber quem era aquele homem, de onde vinha tanta autoridade, Sentiam que a verdadeira vida estava ali e seguiram-no. Esta pequena passagem contém um grande sentido teológico, enquanto não conhecemos Jesus e a nossa ignorância fala mais alto não nos sentimos atraídos por Ele mas quando começamos a sentir que existe ali algo de muito especial, aguçamos os sentidos e torna-se inevitável que queiramos saber um pouco mais do grande plano deste homem para a humanidade, sentimos que ali podemos encontrar um sentido para a nossa vida e a vontade de conhecê-lO começa a despontar na nossa alma.

É então que Jesus pergunta o que eles querem, Jesus sabia mas fez a pergunta para que fossem eles a aderirem por livre vontade, é que Jesus não nos obriga a segui-lO, deixa-nos livres para que possamos aderir a partir da nossa própria vontade. Eles responderam com outra pergunta, onde moras? Jesus não perdeu tempo a explicar, porque para O conhecermos verdadeiramente temos de O experimentar, temos de O conhecer, Jesus não perde tempo com discursos politicos para cativar os seus discipulos, Ele apenas mostra a sua vida e o seu modo de viver, daí a sua resposta "Vinde e vereis". E os discipulos foram, seguiram-nO, mergulharam intensamente na sua vida, no seu amor, na sua paz e só assim na experiência de vida com aquele nazareno o podiam ficar realmente a conhecê-lO. Estas palavras de Jesus continuam a ecoar para cada novo discipulo que sente curiosidade nEle, vinde e vereis.

Não podemos ficar do lado de fora para conhecer o Mestre, do lado de fora não podemos sentir a grande revolução que Jesus nos quer ofertar, do lado de fora não nos entregamos e não podemos sentir Deus pois Deus é amor, é entrega e só assim O poderemos conhecer, entregando-nos de alma e coração. Pode acontecer que depois O abandones, pode ser que acabes por optar por outros caminhos, mas só poderás dizer que O conheces penetrando no seu mistério profundo. Depois até podes querer abandoná-lo mas se não O procuraste e se não ficastes com Ele não podes dizer que O conheceste verdadeiramente. Daí que acho que todos deveriamos passar por uma experiência de catequese, pelo menos para percebermos melhor quem é este Jesus, que projecto quer Ele para a humanidade.

(Continua...)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A Revolução do Justo...


É necessária uma revolução na humanidade, são os gritos mudos de uma humanidade sofrida que a reclama. Olhando esta humanidade podemos fácilmente encontrar miséria e tristeza, e uma injustiça profunda. Enquanto que alguns vivem a encher os bolsos julgando estar no muito ter a felicidade, outros continuam a verter lágrimas de miséria. Ainda há os que vivem remediados mas que não são felizes porque queriam mais, queriam o que os mais poderosos têm... É necessária uma revolta, mas uma revolta pela violência só mudará o rosto da injustiça pois o que realmente importa mudar é o interior de cada ser humano. Assim a revolução que salva a humanidade só pode ser uma revolução de paz no interior de cada ser humano, ajudando-o a ser melhor, a pensar mais nos outros, a não viver tão preocupado com o seu futuro neste mundo que é tão curto e que passa tão rapidamente.

É necessária uma revolução interior, na mudança de prioridades pessoais, na mudança de uma procura desenfreada de sentimento de segurança, para uma procura da construção do bem comum. Não interessa mudar os cargos, os postos e as posições, a revolução que aqui vos trago é uma revolução que só dará resultado se fizer sentido no interior de cada ser humano, na mudança de mentalidades, na procura de outros ideais assentes no diálogo e no primordial objectivo do bem de todos.

Agora digo-te que esta revolução está em curso, sempre teve, é tão velha quanto a relação de Deus com o Homem pois é desejo de Deus que o homem seja feliz. trata-se de uma revolução que teve muitos pontos altos na vida dos homens, sendo um dos mais altos a vinda de Jesus a este mundo, acreditando ou não que Ele é a encarnação do próprio Deus, é indiscutivél que foi um dos marcos mais importantes na história da humanidade. Jesus falou abertamente desta revolução, chamou-nos a atenção para que só ocorrendo esta revolução o homem podia ser digno de ser divino e de ser feliz. Jesus não queria que nos menosprezássemos, Jesus queria sim que nos elevássemos, que mudássemos o nosso interior, as nossas prioridades, Jesus quer a nossa divinização, só que o caminho que nos aponta é contrário à lei do mundo que conhecemos, assente, sobretudo, na procura de segurança. Jesus mostrou-nos que é preciso ir mais além no nosso interior do procurar unicamente a nossa felicidade e a nossa segurança. Jesus aponta-nos um caminho interior de conversão que não é fácil, que implica possuir-se valores mais altos e muito mais além do nosso egoismo.

A revolução que Deus quer instaurar em cada homem é que só o amor interessa, que só o amor incondicional é verdadeiramente justo porque procura o bem de todos sem outras intenções do que espalhar o perfume de uma nova primavera pelo mundo.

Hoje, tu que me lês podes aderir a esta revolução e fica desde já a saber que o primeiro campo de batalha vai ser dentro de ti, na mudança da TUA vida, do TEU interior, é aí que estará o principal campo da tua batalha se quiseres aderir a esta revolução, e só quando tiveres resultados para apresentares poderás partir para lutas mais fora do teu interior, só quando te libertares no teu interior poderás anunciar ao mundo a tua alegria e a paz que descobristes. Procura revolucionar o teu interior, não se dê o caso de que lutando por um mundo melhor derrubes poderosos para apenas ocupares o seu lugar e tudo ficar na mesma. Tens que viver a revolução e tornares-te luz desta revolução, semeando o fogo do amor pelo mundo...

A revolução começa dentro de ti, não esperes que venha de fora...

Evangelho segundo S. Mateus 5,1-16:

E JESUS, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.
Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Encontrar...



Supostamente, sendo a igreja alimentada pelo Espirito deveria ser perfeita e no seu exemplo deveria mostrar a magnitude da vida de Jesus através de actos concretos. Nem sempre assim é, pois a igreja é humana e os homens buscam e na sua busca também erram. O mesmo se passa com as escrituras biblicas, são relatos desta experiência humana com Deus, uma relação nem sempre fácil, onde Deus misericordioso e paciente nos vai moldando e ensinando a abraçar a verdade das verdades, o amor pleno, o amor eterno. A vida é um processo complexo onde dificilmente morremos para nós mesmos e onde dificilmente deixamos de parte o nosso orgulho exagerado e o nosso egoismo. A vida é assim um caminho, um caminho onde nos vimos lançados ao mundo desnudos, sem nada. Olhamos em volta e o nosso ser quer buscar um sentido, o nosso coração sabe que esse sentido existe mas não vimos de forma clara para que busquemos esse sentido por nós mesmos. É então que tomamos muitos caminhos errados, que nos podem dar sentido mas cujo sentido se vai desvanecendo. A vida é uma longa caminhada no escuro, buscamos, procuramos mas nem sempre encontramos e voltamos a procurar, a querer encontrar um sentido consolador das nossas dores.

Felizmente que Deus tem lançado muitas luzes ao mundo e nestas luzes os homens se têm guiado na certeza de que é no amor que está o sentido buscado, falando com as diversas religiões podemos ter uma compreensão do caminho que cada homem precisa de percorrer, ou pelo menos de parte dele. Mas Jesus Cristo foi talvez o que mais mostrou este caminho, trazendo ao mundo um exemplo de vida que arrepia, que confunde, que alerta, que aponta em sentido contrário ao nosso orgulho exagerado e ao nosso egoismo. Jesus vai ao ponto de nos dizer que para alcançar a felicidade e o verdadeiro sentido existêncial temos que morrer para nós mesmos e buscar no amor a vida em abundância. As palavras de Jesus dos evangelhos, cortam-nos, vão contra os nossos instintos egocêntricos, apresentam uma transformação que consiste no abdicar de nós. Não é por acaso que o verdadeiro cristianismo ainda é utopia na humanidade, custa muito percorrer este caminho, que no fundo sabemos ser o unico mas que vai contra as nossas expectativas. É que não é fácil mudarmos totalmente, não é fácil porque temos de sair da lógica egoista do mundo e podemos acabar por ser lezados por um mundo que não compreende a nossa nova vida. É dificil levar a paz a um mundo de ódio pois o nosso instinto diz-nos para responder ao ódio com ódio e Jesus veio dizer que só pelo amor se pode trazer paz. Deus deixa-nos livres nestes dilemas, porventura houve guerras necessárias, se calhar continua a haver guerras necessárias, não sei nem quero entrar por aí, mas é tempo de procurar outros caminhos, caminhos de dialogo, caminhos de paz, pois só pela paz podemos alcançar a paz.

É nos pedido que nos renovemos totalmente e radicalmente, passando do instinto egoista para uma lógica do amor e segundo Jesus não poderemos alcançar a verdadeira felicidade enquanto não nos convertermos, enquanto não pusermos a lógica do amor acima das nossas paixões. A vida torna-se assim maturação, crescimento, um percurso que vai da escravidão à plena liberdade do amor incondicional. Dificil? Sim é, mas se não o fosse não poderiamos dizer que era por nós mesmos que aderiamos à felicidade, se fossemos santos por medo de sofrer ou por medo de um castigo não estariamos a aderir verdadeiramente à felicidade, assim é preciso percebermos na nossa profundidade que a luz de Deus é o caminho, a verdadeira felicidade. É preciso percebermos dentro de nós onde está a verdade. É preciso experimentarmos as trevas da tristeza e a amargura da vida para podermos ter sede e nessa sede encontrar finalmente a Água Viva, não uma água qualquer mas uma água que se transforma em fonte para sempre a jorrar. Jesus é o Bom Pastor, que nos guia, tentando imitar os seus passos descobriremos passos de vida, de verdade e justiça, lendo na sua vida encontraremos a nossa, comtemplando a sua luz encontraremos a nossa alma, livre de tudo o que a aprisiona.

Façamos esta caminhada interior de renovação, as pistas há muito que foram lançadas ao mundo, são as pégadas que outros vão deixando, pégadas de santidade, pégadas santas que conduzem ao Santo dos Santos. Jesus foi o que pisou o caminho de forma mais clara e outros, à sua maneira, tem seguido estas pégadas, têm errado, têm voltado atrás e muitos têm conseguido deixar as suas marcas no mundo, marcas que nos apontam o Pai... É isto que nos é pedido, que busquemos, que nos libertemos e que sirvamos para libertar outros. Se pisarmos errado, voltemos atrás sem vergonha, pois revelar onde está o erro também é pista para a verdade.

Renova-te!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Mundo e mundos


Ontem à noite revi o Fiel Jardineiro, um filme que gosto muito e que fala da coragem na luta pela vinda de uma primavera à humanidade, em especial num continente tão martirizado pela dor e pelo sofrimento como o africano. Pensar que a Humanidade já conseguiu tanta coisa e ainda não consegue desdobrar-se para que não haja tanta dor e sofrimento, pensar que com tantos avanços na teologia, na filosofia, na ciência e no modos de pensar ainda se põe o crescimento económico acima de tudo.

A mim custa-me pensar que enquanto me queixo da minha vidinha, enquanto estou no quentinho do meu lar, muitos seres humanos sofrem a pobreza extrema, faz-me doer o coração. Nestes momentos se prestar atenção com os ouvidos da minha alma oiço o carpir triste que povoa o mundo, oiço o bater das lágrimas no chão, oiço a desolação do mundo.

Quer no mundo mais desenvolvido, quer no outro, o chamado de terceiro muitas dores povoam as almas dos homens, muita coisa oprime o ser humano não o deixando ser feliz e livre. Por isso importa não parar esta luta por uma Primavera que chegue a todos, é preciso gritar aos quatros ventos, apregoar um mundo novo, tocar nos corações humanos, fazê-los sentir o outro e as suas dores.

Olhando o mundo vejo choro, o choro dos ricos que no fundo de si sabem não serem livres, o choro dos pobres que acham a vida uma madrasta má, o choro dos remediados que crêem que a razão dos seus males está na injustiça de não serem tão ricos como os mais ricos, o choro daqueles que nada tem e que apenas pedem um bocadinho de pão. Oiço também o choro de tantos que procuram um sentido e que não encontram...

Mas ainda bem que há os outros, aqueles que mais clarificados interiormente, crentes ou não, lutam pela primavera, estes podem sentir o toque do Espirito Santo e a sua vida tem um sentido, na sua luta pela paz lançam sementes da Primavera à terra e esperam pacientemente a vinda da chuva do Espirito Santo, pois crentes ou não, todos sabemos no fundo de nós que este Espirito existe e que é este Espirito o motor por um mundo melhor!

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Visões do outro Mundo, o interior...


Alucinações... ou loucuras... quem sabe?

Hoje voltei a entrar dentro de mim, voltei a percorrer as planicies do meu ser em voo picado e pousei perto do riacho onde costumo falar com Deus... Mas chamou-me a atenção uma porta no meio da vegetação, nunca a havia visto, entrei para espreitar. Estava lá um ser estranho, invisivel quase, cor de transparente... saudou-me... perguntei: quem és? Respondeu: Sou aquilo a que chamam diabo... Voltei: e que fazes aqui? respondeu: eu vivo em cada ser humano para que ele possa ter motivação, sou a força que o faz querer reproduzir-se e passar e saborear as coisas deste mundo. Era apenas um instrumento para salgar um pouco a vida, mas...

Olhei para ele e senti dentro de mim a agonia que vivia, vivia revoltado por não ter a sorte dos seres humanos. Ele queria que Deus fosse mais assim carnal, que todo o sentido tivesse no carnal e não só no espiritual, ele queria, sobretudo ter a sorte dos humanos e poder usufruir das coisas boas deste mundo que tem estas coisa para chegar ao espiritual.

Mas ele queria que o sentido tivesse nisto para que os anjos como ele também pudessem usufruir dos prazeres terrenos. "Os seres humanos que vivem só pelo prazer são como eu, também eles queriam uma vida com sentido primordial no carnal e não o contrário." Por isso ele os tenta conquistar numa revolta contra Deus. Mas Deus não pode mudar as coisas, ele sabe que só no espiritual está a verdadeira vida, o próprio mundo é instrumento na divinização do homem, por isso Deus não pôe entraves aos males que nos acontecem, aos invernos que nos surgem sem baterem à porta. E são as amarguras da vida que nos vão fazendo mais forte buscando o sentido noutras coisas...

Depois pensei nos imensos seres humanos que partem deste mundo em desespero de não poder ter uma vida carnal eterna... Enlouquecidos pelo bom sabor da vida mundana querem agarrar-se à vida, por isso Jesus disse feliz do que morre para esta vida, há-de nascer para uma nova vida... Mas este nascimento só se pode dar interiormente. dentro de cada um e por isso Jesus não se cansa de lutar por nós.

Tudo deu uma reviravolta, já estava ao lado do rio... Jesus sorriu para mim e... e desapareceu numa neblina repentina... acordei, ia esbarrando contra uma montra, afinal estava a andar na rua...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Emaús, o Caminho da vida!


No Evangelho de S. Lucas, após a ressurreição de Jesus Cristo, aparece-nos uma passagem com os chamados discipulos de Emaús (Lc 24,13-35). Nesta passagem dois individuos caminham para Emaús, desalentados com o que viram em Jerusalém. Ambos tinham vivido muita coisa bonita com o seu Mestre, e com Ele tinham aprendido um sentido novo de existência mas as suas esperanças estavam em que fossem libertados do jugo romano e agora o seu Mestre estava morto. Eis que surge um estranho no meio deles e pergunta o que se passa. Os discipulos muito admirados por o outro desconhecer os acontecimentos explicam que Jesus havia morrido. Está claro que este estranho era o próprio Jesus e sem se dar a conhecer começou a explicar as escrituras, renovando o alento daqueles discipulos ao ponto que na hora da despedida eles pediram que ficasse utilizando esta maravilhosa expressão: «Ficai connosco, Senhor, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus ficou e ao partir do pão deu-se a conhecer deixando os discipulos entre surpresos e arrependidos: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?».

Esta é uma das passagens mais bonitas dos Evangelhos e aborda o ser humano na sua profundidade face ao mistério de Jesus Cristo. Jesus pregava a vida em abundância, uma vida plena em que o amor é o grande condutor, uma vida plena em sentido, fonte de água viva. Nós hoje também temos as escrituras que nos ensinam esta nova vida e que nos explicam de que forma Deus se faz presente na nossa vida do dia a dia, mas tal e qual como os discipulos de Emaús tambem não reconhecemos a Sua presença, somos cegos muitas vezes, não vimos ou não queremos ver. Aqueles discipulos estavam amedrontados e este seu medo impedia-os de ver a verdade, de sentir plenamente o sentido da vida ensinado por Jesus, mas o desespero que sentiam continua alastrado pelo mundo. Quantas vezes não somos nós como eles, Deus faz-se sempre presente na nossa vida mas muitas vezes não O queremos ver, porque não acreditamos no poder da vida sobre a morte e acabamos por cair no desespero. Acabamos por abraçar uma vida de morte assente de que é preciso aproveitar enquanto cá estamos e que de nada nos serve aprender o caminho ensinado por Jesus Cristo ou pelo amor, ou pela religião. Eu sei lá se há vida depois da morte, para quê lutar por ideais quando isto tudo tem um fim e acaba. Desalentados baixamos os braços e acabamos por abraçar uma vida egoista, sem grande doação. O que nos vai segurando num caminho de luz, muitas vezes é a familia, o desejo de ter filhos e o amor que temos dentro de nós, mas hoje em dia há muita gente que já nem pensa em casamento e em filhos, diria que são cada vez mais.

A Humanidade vive o desalento dos discipulos de Emaús de forma cada vez mais profunda, às tantas já nem queremos reconhecer a verdade, a nossa unica verdade é que não vale a pena uma vida de amor, de entrega, de doação, este tipo de vida é cada vez mais uma coisa de doidos e sem sentido, já que o que é preciso é aproveitar a vida ao máximo, beber uns copos, dar umas "kecas" e curtir a vida, enquanto cá estamos. Este desalento fecha-nos dentro de nós mesmo e impossiblita-nos a chegada ao amor, um amor maior, mais verdadeiro, mais autêntico, mais fonte de vida. Os tempos que correm são tempos de morte, de descrença, do não reconhecimento de Deus na vida, no dia a dia. As escrituras já não nos dizem nada e para o nosso novo estilo de vida é preferivel não acreditar num Jesus ressuscitado pois a fonte da nossa vida tornou-se o desespero do medo da morte.

Eu sinto este desalento todos os dias, também eu caminho desalentado com a vida, muitas vezes porque quero e porque assim posso curtir a vida, ainda assim isto é tudo para acabar então há que aproveitar.

Mas no Evangelho Jesus deu novo alento aos discipulos, de que afinal Deus é um Deus vivo e existe esperança. Começou a fazer-se luz no coração dos discipulos, uma luz tão forte que acabaram por pedir que aquele estranho ficasse, afinal a maior das alegrias está no amor, mesmo que acabamos por perecer com a morte, a maoir das alegrias está em amar e só neste amor podemos ter uma vida autêntica, mesmo que seja finita, mesmo que acabe um dia.

É então que à mesa Jesus parte o pão e naquele partir do pão se revela, operando novo milagre naqueles discipulos. Os discipulos passam a ver porque ficam com o coração cheio de esperança e de amor e após Jesus desaparecer soltam este desabafo: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho
e nos explicava as Escrituras?». É assim a nossa vida, deixamo-nos abater por uma miséria existêncial de que nada vale a pena e muitos sinais nos são dados em contrário mas muitas vezes preferimos viver no desespero, porque ele é fonte de um vida vivida pelo prazer, egoista, centrada nas nossas alegrias mudanas. Não queremos ver e mesmo com os sinais que nos são dados continuamos a não querer ver, fechados no nosso egoismo mesquinho. Reflitamos neste Evangelho e procuremos em que momentos da vida mais se Deus se faz presente, e sobretudo neste Domingo vamos à missa e no momento da consagração olhemos o pão elevado no alto e reconheçamos o próprio Jesus que nos quer ensinar, que nos quer falar, que nos quer dar vida em abundância!

Paz!

segunda-feira, 31 de março de 2008

Um Deus de Misericordia


No passado Domingo, o primeiro a seguir à Páscoa, a Igreja Católica celebrou o Domingo da Divina Misericórdia. Esta festa, para os crentes, surgiu de um pedido feito pelo próprio Jesus a santa Faustina.

"Quando a alma vir e reconhecer a gravidade dos seus pecados, quando se abrir diante dos seus olhos todo o abismo da miséria em que mergulhou, que não se desespere, mas antes se lance com confiança nos braços da Minha misericórdia, como uma criança no abraço da sua querida mãe."
Diário de Santa Faustina (1541)

Jesus revela-se-nos na sua grande glória, uma glória de amor, de alguém que serve de farol para orientar para Deus Pai, um Deus de amor, que vive do amor, pelo amor e para o amor. Este Deus de amor ama-te com todas as suas forças e quer que faças caminho neste mundo para aprenderes, por ti próprio, que só pelo amor podemos ser salvos. Jesus é a luz do mundo e quem o seguir não andará nas trevas porque aprenderá que o amor é o mais forte, o que não se corrompe nem morre, aprenderá que não há outros caminhos salviticos se não um caminho de entrega, de doação de nós mesmos, sem amarras ao que se chama de pecado. Este caminho pode muito facilmente ser confundido com a aniquilação do ser humano, numa ideia errada de que a igreja é contra tudo o que é considerado prazer, mas a igreja apenas nos chama a atenção para não nos tornarmos escravos de muita coisa que só nos dá um prazer momentâneo.

Mas Deus sabe que nós somos escravos, sabe que na nossa busca tentamo-nos agarrar a qualquer coisa que faça sentido. Facto que piora quando Deus não nos é fisicamente palpável. Deus está sempre connosco, todos os dias a todas as horas mas não se deixa ser palpável porque assim abraçariamos a salvação não porque conscientemente descobriamos ser o unico caminho para uma vida de sentido, mas sim por medo de um Deus presente que nos controlasse.

Assim a presença de Deus no mundo é muito discreta e misericordiosa, Ele vai actuando subtilmente na nossa vida sem forçar muito, inspira-nos para que procuremos a verdade, com o seu Espirito Santo. Vai actuando subtilmente no mundo sem o condenar, observa sem se vingar, espera uma espera activa a nossa chegada, o nosso advento. Jesus Cristo foi, para mim, o maior sinal de Deus. Jesus sendo ou não sendo o próprio Deus encarnado, será de certo o que mais revelou deste Deus que tanto nos ama, um Deus que afinal não é vingativo, um Deus que afinal é Pai e que nos ama como filhos, num amor incondicional.

O cristianismo é uma opção de vida que vê em Jesus o reflexo de Deus Pai, a imagem real de Deus. Quem o vê a Ele, vê a Deus Pai. Quem o seguir só poderá ter como destino o abraço de Deus Pai. Jesus é a imagem de Deus no mundo, o caminho modelo para que em cada ser humano possa surgir a Primavera do Espirito Santo. Deus espera-nos, não nos evita os invernos nem as primaveras, pois sabe que são essênciais a cada um para que, um dia, a verdadeira Primavera, a Primavera das primaveras possa desabrochar dentro de cada um.

Deus ama-te, Deus jamais te abandona, está sempre contigo, chora quando choras, ri contigo, caminha contigo. Hoje poderás não ver a sua presença e achares que estás sozinho, mas hás-de deixar a primavera entrar dentro de ti e aí uma sensação maravilhosa de consolo percorrer-te-á a alma e tudo ficará claro aos teus olhos.

Confia!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Ecumenismo e a Primavera do Espirito Santo


As religiões continuam de costas voltadas, muito centradas nas sua doutrinas, nas suas origens, negando e indo contra tudo o que vem de fora. Continua a existir muitas costas voltadas... Esquecemo-nos de que Deus é amor e como a sua essência é amor, Ele só pode amar. Acredito que as diversas religiões do mundo resultam da acção do Espirito Santo na vida dos homens, é Deus através do Seu Espirito Santo que quer moldar o homem, quer salvá-lo, quer torná-lo feliz... É Deus que quer que a humanidade aprenda o caminho da santidade, que se auto-transforme com a Sua ajuda. Assim ao longo dos séculos o Espirito Santo tem falado aos homens, tem inspirado a humanidade, fazendo sentir em cada coração que o destino da humanidade é muito maior e que não tem fim neste mundo que conhecemos. O Espirito Santo não se tem poupado a esforços e a humanidade continua a crescer, nos seus conflitos e nas coisas boas para alcançar uma realidade suprema. O homem é religioso por natureza porque em cada coração reside o Sopro Divino do Criador.

Isto tudo para dizer que as barreiras que as diversas religiões erguem não fazem sentido, não será preciso cada uma adoptar as doutrinas das outras, mas sim entrar em diálogo, unificar esforços por uma paz mais verdadeira e por fins humanitários mais elevados que as discussões teológicas e filosóficas. Não se pode pedir às diversas religiões que abdiquem dos seus principios mas seria importante que cada uma ofertasse o que mais de belo tem, num diálogo construtivo por um mundo melhor, mais justo, mais humano.

É esta a primavera do Espirito Santo no mundo, que só poderá ocorrer numa linha ecuménica entre todos. Outrora falava-se no corpo mistico mas a nova Primavera que quer surgir no mundo é um corpo muito maior onde muito diferentes partes e fracções religiosas entram em articulação e formam um verdadeiro corpo com Deus e em Deus. Cada religião não terá que abdicar das suas ideias e da sua fé porque em todas está presente a elevação do Homem ao Divino. Nesta nova humanidade o templo de Deus não teria paredes e como, ouvi a um amigo meu, apenas teria como tecto o Espirito Santo que abrigaria todo o género humano num objectivo comum, o ideal dos ideais, a paz na totalidade, a harmonia.

Utopia, talvez... mas é o sonho que comanda a vida e o caminho é para a frente!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Uma Nova Vida Com o Ressuscitado!


Hoje trago-vos uma questão algo complexa, a do inferno e a do céu... Se Deus é amor e se Deus nos perdoa sempre, então podemos pecar à vontade? Eu próprio já dei comigo a pensar que posso pecar à vontade porque Deus vai perdoar, porque Deus é bom. Analisando melhor percebo que o inferno não é tanto um lugar, mas mais um estado de espirito, o inferno somos nós que o criamos no nosso interior de cada vez que nos afastamos do abraço do Pai, o inferno é não ver um sentido, o inferno é viver amargurado na revolta de Deus não ser o que nós gostariamos que fosse. Na minha pouca experiência teológica vejo o inferno como algo que vivo todos os dias, pois o inferno esconde-se em cada amarra que não me deixa ser livre para amar. No dia a dia estamos sempre nesta corda bamba, entre o inferno e o céu, entre a procura da felicidade no egoismo e a procura da felicidade no amor. Assim não é Deus que com um sentido vingativo nos atira para o inferno, o inferno é sim construido por nós. Neste tempo Pascal o Ressuscitado continua a falar-nos ao coração para destruirmos o nosso inferno e abraçarmos a glória de Deus, uma glória que não é como as glórias que procuramos, de poder, de dinheiro, de fama. É preciso abraçar a glória de Deus, uma glória assente, sobretudo no amor. Jesus estende a sua mão para nos salvar, utilizando o seu exemplo e o seu amor, se o entendermos no fundo do nosso coração e se abraçarmos o seu amor e o seu modo de viver estaremos a destruir o inferno que construimos e a abraçar a glória de um Céu que Deus nos oferta e onde Deus nos espera.

Como construir o Céu dentro de nós? Sobretudo com a ajuda do ressucitado e com o modelo existêncial que Ele nos oferta. Para isso há que contemplar as escrituras, há que reflectir nas palavras do ressuscitado, há que tentar viver o amor, aprender a perdoar, aprender a amar sem esperar algo em troca. Não é um caminho fácil este, mas acredito que é o unco caminho possível para nos tirar destes muros onde nos fechamos, deste inferno que construimos... Jesus continua a chamar-nos a um novo modo de vida e continua a apontar-nos a saída real para deixarmos o nosso inferno. É que as outras saídas apenas nos fazem esquecer o inferno, não nos tiram de lá...

Faz Páscoa em ti! É Deus que quer sentir o teu abraço!

quarta-feira, 19 de março de 2008

A Primavera da Ressurreição


A Ressurreição, segundo Cristo, é sobretudo um convite a uma vida nova, diferente, fora do egoismo, de serviço pela conquista da alegria completa em que somos livres, totalmente livres para amar. No cristianismo também há os pecadores, os escravos do egoismo, pois, é que a igreja é feita para o Homem e pecadores somos todos... A Ressureição de Cristo é o mais fantástico e belo sinal da nova primavera anunciada à dois mil anos, Uma nova primavera que tem sido construida ao longo dos séculos mas que ainda não se concretizou na totalidade. Mas tu podes sentir o perfume dsta nova primavera, e, mais do que sentir o seu aroma, foi-te dado o poder de hoje a trazeres ao teu coração, nem que seja por breves instantes... Se hoje te ajoelhares e chorares as tuas faltas de amor e a tua escravidão ao egoismo verás uma esperança renovada e uma vontade grande de amares...

E aí estará a primavera, no amor, na entrega aos outros, na despreocupação de ti... De cada vez que te preocupares mais com o outro, de cada vez que deres um pouco de ti, de cada vez que despertares da tua insignificante vida de busca de prazeres para
encontrares a felicidade, a verdadeira felicidade de amar, aí estarás a viver a Primavera.

terça-feira, 11 de março de 2008

Deserto



A presença de Deus é mais intensiva quando estamos no deserto, ouvi a uma amiga minha... acho que é porque no deserto não há mais nada do que areia, dunas e o silêncio... No deserto a nossa alma entra numa quietude forçada, no desamparo que sentimos procuramos o amparo, apuramos o ouvido buscando, apuramos o olhar, apuramos todos os sentidos... do fundo de nós buscamos o sentido, não um sentido qualquer, como aconteceria se tivessemos rodeados de agitação e barulho, mas sim o sentido unico, aquele que resta quando não temos já mais nada...

Já reparaste que doi quando estamos só, em silêncio, sem nada para fazer, sem ninguèm com quem falar... Muitas vezes mal entras no carro ou em casa a primeira coisa que fazes é procurar um botão, do rádio ou da televisão... Pois é custa estar sózinho, em silêncio, desnudos em frente ao espelho da consciência...

sim custa, custa porque tens medo de não ir gostar do que vês...

sim custa porque sabes que existemcoisas em ti que em posse plena da tua consciência, não farias...

Custa porque sabes que um outro sentido existe na vida mas a nossa alma não quer largar outros sentidos, outras razões...

No entanto, mais tarde ou mais cedo, a tua alma irá cair nesse silêncio, um desaire, um revés na tua vida talvez, mas alguma coisa te fará ficar em silêncio, no deserto, sem mais nada...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Ressuscitar para uma nova vida!



5º Domingo da Quaresma – Ressuscitar para uma nova vida!

Leitura 1 Ezequiel 37, 12-14;
Sal 129, 1-2. 3-4ab. 4c-6. 7-8
Leitura 2 Rom 8, 8-11
Evangelho Jo 11, 1-45 ou Jo 11, 3-7. 17. 20-27. 33b-45

Neste Domingo a palavra fala-nos ao coração sobre duas dimensões que coabitam na vida, a dimensão da frustração, do medo, da revolta e do ódio e a dimensão da mansidão do amor, da mudança e da esperança. A primeira leitura promete a abertura dos nossos túmulos, neste texto de Ezequiel este túmulo é o nosso egoísmo o nosso olhar para o mundo como local perdido, como um salve-se quem puder… Nesta dimensão não existe lugar para a Esperança, tudo parece ser em vão, nada do que se possa fazer interessa pois tudo perecerá.

Deus ao fazer este mundo fê-lo como uma escola onde temos a oportunidade de aprender e de conhecer o mais importante dos tesouros, a vida plena, a alegria completa, mas acontece que facilmente podemos cair no desespero e na desesperança, neste estado caímos no egoísmo, morremos para os outros, vivemos a correr para ter um bocadinho do que pensamos ser a felicidade, em coisas mundanas que nada nos adiantam. Se calhar não são más estas coisas mas o nosso egoísmo cega-nos e faz-nos escravos delas. Na nossa ânsia de liberdade não percebemos que nos estamos a prender e a tornarmo-nos escravos por nossa própria iniciativa. É aqui que entra o forte apelo do Senhor através de Ezequiel «Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar, ó meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel.», Deus quer-nos felizes e quer-nos ensinar que a verdadeira felicidade se esconde muito para além das coisas deste mundo e, principalmente, muito para além do nosso egoísmo. Por isso somos chamados a sair do nosso tumulo, do nosso egoísmo, da nossa miséria. Como ensina Paulo na segunda leitura somos chamados a não sermos escravos das coisas deste mundo e a procurarmos uma realização humana muito mais divinizada, à verdadeira imagem do Deus que Jesus nos veio dar a conhecer. A nossa verdadeira felicidade não reside fora de nós, neste mundo. A verdadeira felicidade reside na medida em que saindo do nosso egoísmo mais nos encontrarmos no amor aos outros. Na forma desinteressada de amar está o segredo da felicidade pois neste desinteresse de nós mesmos encontraremos a nossa essência mais profunda de filhos de Deus e de concretizadores de milagres.

E eis o Evangelho a rasgar tudo de alto a baixo, Jesus quer mostrar por um acontecimento concreto, que Ele é a ressurreição e a vida, que é o exemplo supremo de onde encontrar a verdadeira felicidade, Jesus oferece-se como modelo para que cada um de nós encontre o abraço de um Deus que é Pai e não padrasto. Jesus veio iluminar o mundo para que nós, os mortos fechados no túmulo do nosso egoísmo, possamos sair e experimentar o gosto da liberdade suprema, a divinização do humano, o alcance de uma nova condição humana, o Homem Novo. Das profundezas dos nossos túmulos fechados uma luz desponta, olhamos e não percebemos, só é possível contemplar a luz mais de perto se desviarmos o nosso egoísmo, entregando-nos ao amor. Mas isto não é fácil, quando amamos corremos o sério risco de sofrermos desilusões, de sofrer e assim ocorrerá até que do fundo de nós tenhamos a verdadeira noção da forma como Jesus nos ama e de como Jesus nos quer ensinar a amar… Vou silenciar-me para escutar melhor o que a palavra me quer dizer para que eu possa sair deste tumulo que continuo a erguer, com receio de lutar por ter a luz de Jesus.

Para um melhor aprofundamento e para ler a palavra de Domingo: http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_liturgia.asp?noticiaid=57193

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Santidade e Exemplo



No nosso testemunho não devemos esconder que somos pecadores e que temos fragilidades... o perigo é vivermos duas vidas paralelas, uma em que queremos ser santos a todo o custo e outra em que agimos de acordo com as trevas... penso que muita da ineficácia da missão da igreja nasce desta hipocrisia, insistimos em atirar com o nosso lixo para debaixo do tapete e colocamos a máscara da santidade por fora... No fundo somos tumulos caiados de branco, lindos por fora, podres por dentro... É verdade que o nosso caminhar enquanto cristãos pretende chegar à perfeição, à santidade, mas não devemos esconder o quão frágeis somos, não devemos esconder que somos fracos e pecadores que buscam a Deus... Nalguns testemunhos cristãos a que já assisti em alguns movimentos, residia muito a ideia de "eu fui pecador, Deus chamou-me e agora já sou santo", o que é mentira pois continuamos sempre a buscar, a cair... Ao admitirmos as nossa trevas a nós próprios trazemos-as à luz e poderemos sofrer uma transformação; Ao admitirmos perante os outros que somos frágeis e pecadores eles observam melhor que caminho dentro de si devem tomar rumo à santidade... Ao admitirmos que somos frágeis, não corremos o risco que os outros pensem em nós como herois a quem não se pode apontar o dedo, deste modo eles perceberão que ainda poderão ser santos quando cairem uma e outra vez, assim eles perceberão que ainda podem ser santos quando nos apanharem a nós numa queda... Muitas vezes acontece apanharmos um nosso idolo terreno em falta e a nossa fé vem por aí abaixo...

Por isso nunca deixem de admitir que existem trevas dentro de vós, nunca deixem de admitir que também caiem, que também procuram, que tentam, que lutam, os outros perceberão então que a vida é uma transformação constante, um processo de crescimento que sempre irá decorrer enquanto o nosso pisar soar sobre esta terra, e, não cairão numa depressão porque acham que não conseguem ou porque sabem que ainda tem trevas dentro deles, ou porque de repente vos apanham em queda. Ser santo neste mundo é admitir que não o somos e ainda assim não desistirmos da busca, da procura das nossas vidas.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008




Hoje li este texto de S. Romão...

Abre, Senhor, abre-me a porta da tua misericórdia antes da minha hora de partir (Mt 25,11). Porque eu tenho de partir, de ir até Ti e de me justificar de tudo o que eu digo em palavras, do que faço em acções e dos pensamentos que guardo no meu coração. «Mesmo o rumor das murmurações não escapará ao teu ouvido» (Sb 1,10). David diz-Te no seu salmo: «Os teus olhos viram-me em embrião, no teu livro está tudo escrito« (Sl 138, 13.16). Ao leres nele as marcas das minhas más acções, grava-as na tua cruz, pois é nela que eu me glorifico (Ga 6,14), gritando-Te: «Abre-nos a porta» […]

O espírito endureceu-se-nos a tal ponto que, quando ouvimos falar das calamidades que aconteceram a alguém, em nada nos corrigimos (Lc 13,1s). «Não há quem seja sensato, quem procure a Deus; estamos extraviados, estamos pervertidos» (Sl 13,2-3). Os Ninivitas, naquele tempo, arrependeram-se a um único apelo do profeta. Mas, nós, não compreendemos apelo nem ameaça. Com suas lágrimas, Ezequias pôs em fuga os Assírios suscitando contra eles a justiça do alto (2 Rs 19). Ora eis que os Assírios […] nos puseram cativos, e não chorámos nem gritámos: «Abre-nos a porta».

Divino Senhor, de todos juiz, não esperes que mudemos de atitude; tu não precisas das nossas boas acções, pois cada um de nós se dedica a más acções pelo pensamento e pela vontade. Porque é assim, Salvador, governa os nossos dias segundo a tua vontade, sem esperares a nossa conversão, pois talvez ela não se dê. E, ainda que ela venha a acontecer, será por pouco tempo, não persistirá até ao fim. Como a semente que cai entre as pedras, como a erva nos telhados, ela secará sem chegar a crescer (Mc 4,5 ; Sl 128,6). Estende pois a tua misericórdia sobre nós e todos os que pedem: «Abre-nos a porta».

São Romano, o Melodista
Hino 51

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Hoje, ao ler estas linhas de S. Romão, era como se tivesse a ler a minha própria alma... Hoje é daqueles dias que bem poderia ter escrito algo com o mesmo sentido... Nestes ultimos dias uma vontade grande de mudança tem existido em mim mas que acaba sempre por ser superada pelas minhas fragilidades, mas a questão não é querer ser mais perfeito ou santo e não o conseguir, a questão é o meu sufoco por um bocadinho de liberdade sem conseguir, as ervas daninhas em mim sufocam-me, sobem por mim, dão-me um prazer momentâneo e depois deixam-me como que vazio por dentro... E nós quando estamos vazios por dentro enchemo-nos com qualquer coisa. Sei que por mim não posso ser mais santo ou menos conflituoso internamente, mas sei que preciso de ser salvo, de ser liberto de coisas que me prendem, que não me deixam amar, que me seguram e que não me deixam ser eu... Por isso hoje Senhor hoje abre a porta, para que eu possa sair desta minha prisão, abre-me a porta para que eu possa chegar à janela do meu sorriso e deixá-la aberta para os outros, Abre-me a porta para que eu possa explodir de actividade em mim, para que a tua luz penetre em todo o meu ser, renovando-me e revelando o que de mais bonito tenho dentro de mim, por isso Senhor te clamo em conjunto com o salmista São Romano e faço do seu hino o meu hino também: «Estende pois a tua misericórdia sobre nós e todos os que pedem: «Abre-nos a porta». »